Primeira sexta de 2024

 Que sexta, trabalhei até ás dez, fui tomar um café e segui para o Hospital. O quarto estava aberto e sem as placas de interdito, não havia máscaras, nem aventais, entrei e a mãe estava destapada á espera do banho. Fui de imediato á secretária da unidade, uma mulher que se mostra extremamente  simpática, mas que me irrita por esta tentativa de querer agradar  mostrando sempre um ar superior, não mostra estar ali para ajudar. Mandou-me esperar porque estava no meio de um trabalho, deu duas voltas ao quadrado das enfermeiras e médicos e veio então dizer-me que eu esperasse no quarto, pois não se tinha esquecido do que eu queria. Que mulher embirrante. Fui para o quarto, estava já a enfermeira e a auxiliar a tratar da mãe, conversámos um pouco, disseram-me que a mãe mal comeu e por estar cansada de uma noite agitada não ia para o cadeirão mas sim para a cama. Agradeci, sentei-me ao lado dela e por aqui ficámos aos beijinhos, ela a mexer-me no cabelo , a fazer-me festinhas, tão bom! Entretanto aparecem duas médicas uma apresentou-se como nova na equipa da Dr. Margarida Brilhante, que me fazem perguntas sobre a mãe, se era autónoma em casa, e vivia sozinha, enfim. perguntei se sabiam se a doutora demoraria muito, disseram-me que talvez não porque estava em consultas, que  viria quando acabasse. Certo. Uma e meia da tarde vem o almoço, sopa para a mãe, provei e era boa mas sem sal, tinha um comprimido para tomar, a enfermeira pediu-me se eu lhe dava , claro, dei-lhe o comprimido e duas colheres de sopa para que o engolisse, á terceira começou a dizer que não queria aquilo, que não, que não, veio uma auxiliar e ela sempre a dizer que não, ´s a dizermos que tinha de comer, ela sempre a gritar e a agarrar-me a mão, não, não, não, nem com seringa, nada. Desistimos. Perguntei-lhe se queria um suplemento disse que sim mas mal provou já não repetiu. Sentei-me no cadeirão e chorei, chorei desesperada. Duas e meia da tarde a mãe dormitava, eu sem comer e nervosa, fui perguntar á nova médica se a Dr. demoraria muito, respondeu-me que estava mesmo a chegar, eu desabafo que ainda bem porque estava há tanto tempo á espera, estava um médico jovem, cerca de trinta anos que me responde , então o que a senhora quer a Dr. Margarida trabalha, virei-me para ele e respondi, olhe ainda bem porque eu não, por isso é que estou aqui há horas. 

Voltei para o quarto, e lá veio a Dr. Margarida estava eu a chorar, de cabeça baixa, ela pergunta o que se passa consigo, eu respondo-lhe que estou desesperada por ver a minha mãe assim, ela explica-me aquilo que eu já tinha percebido há muito tempo, que já estava á espera que este fosse o resultado do estado da mãe porque o caso é grave, os órgãos como o esôfago está muito dilatado, o estomago muito pequeno a comida fica muito tempo entre uma coisa e outra e provoca desconforto, ela sabe que vai sentir desconformo e não quer sentir portanto não come. Disse-lhe que sentia que a minha mãe estava ali abandonada, que não me diziam nada, que nem sabia o resultado da radiografia com contraste que ela fez. A médica achou muito estranho ninguém me ter dito nada, que tinha sido uma falha, mas que realmente viram que a bebida que ela tomou para o contraste ficou mais de quinze minutos para circular, o que não é normal. Agora é preciso que ela continue a comer para se habituar e o corpo tolerar a comida. Disse que sabia que a mãe não comia porque não queria, perguntou-lhe se era verdade e a mãe fez sempre que estava a dormir nunca respondendo. Falei-lhe nas feridas da mãe, ela prometeu-me uma cama anti-escaras no dia seguinte, uma almofada para se sentar, banho todos os dias, que aliás já tinha escrito tudo isso e que não percebida porque as enfermeiras não o faziam...pedi-lhe por tudo para que tentasse tudo para ajudar a minha mãe , a chorar, claro, prometeu-me que não mas que me preparasse porque mais dia menos dia ela vinha para casa. Como??? Vá falar com a assistente social para pedir ajuda com a higiene em casa, mas temos de a preparar para recuperar, não é D. Esmeralda? A mãe nunca abri u os olhos, só no fim quando ela voltou a repetir senão melhorar os seus filhos não a veem ver , e a minha mãe de olhos bem fechados ainda levanta a mão e diz um adeus "tipo vai-te embora e não voltes" tive de me rir. Dei-lhe beijinhos e ela abre finalmente os olhos e diz-me nunca pensei que metesses uma mulher aqui em casa a ralhar comigo...tadinha está mesmo fraca.

Vim embora e não voltei ao fim do dia, mas fez queixa de mim ao meu irmão, que estava zangada comigo mas inventou uma história ao seu jeito.

Hoje fui lá ao meio dia estava já de banho tomado, disseram-me que tinha vomitado de noite, estava sentada no cadeirão mas pediu-me que lhe pusesse pomada no rabo que lhe doía, fui perguntar senão havia a almofada com buraco, diz  que não havia estavam todas a ser utilizadas, porém a cama nova já estava instalada. Mas começou logo a mandar-me levantá-la do cadeirão, a ajudá-la a ir para casa, tive quase de fugir á socapa. Fui a uma farmácia comprar a dita almofada e á tarde fui levá-la, estava sem comer novamente, ainda lhe dei um pouco de suplemento, de capuccino que me parece que lhe dá um sabor agradável. Disse estar muito cansada e com os olhos meio parados, que até me assustou um pouco. Dei-lhe beijinhos e ela deu-me a mim também e perguntou-me se eu não ia trabalhar, disse que ia e vim embora. 

Minha querida mãe...

Não sei como vamos aguentar tudo isto...

A vizinha da minha mãe que foi na semana passada também para o hospital, falei com a minha amiga de infância que me disse que rebentou uma ulcera no estomago, que perdeu a mobilidade e que não voltaria a ser a mesma com autonomia, que procurasse ajuda...a filha vai pô-la um lar...