E o tempo continua a correr...

 Não paro, ou por outra, paro porque deixo de fazer coisas da casa, roupas e outras coisas, permito-me fazer só o que me apetece. Porque ir todos os dias para o hospital, enervar.me todos os dias já é dose suficiente. Tem sido quase tudo igual, mãe ora come um iogurte ora vomita, ora come a sopa ou a gelatina, agora comprei-lhe também aqueles saquinhos de fruta dos bebes. Chego e pergunto á enfermeira responsável pala mãe, que muda a cada oito horas, se comeu, a resposta é sempre a mesma, ninguém reportou nada é porque comeu, mas comeu a taça da sopa ou comeu duas colheres? Ah isso não sabemos. Banho na casa de banho não tornou a tomar porque não há tempo e na cama é muito mais rápido, e é muito bom dizem as auxiliares. Sempre que vou ao centro do andar, onde estão as enfermeiras, acabo a chorar, ontem depois de uma série destas perguntas, voltei ao quarto, pare na porta para limpar as lágrimas e lá fui para perto da mãe conversar com ela, fazer-lhe festinhas, dar beijinhos e ali fico uma, duas horas. Ontem no meio dos nossos momentos, entrou um médico da equipa dos que estão com a mãe, a colocar umas luvas e diz, "senhora Esmeralda, vou-lhe fazer uma maldade, a senhora tem feito coco, responde a mãe muito aflita, olhe já tenho pensado nisso nunca faço, eu acrescentei, não  costumo perguntar porque já faço um interrogatório grande mas como pensei que isso estivesse controlado...responde o médico, pois a enfermeira Mariana chamou-me a  atenção que não, vamos aqui ver" E nisto tira a fralda á mãe apalpa-lhe a barriga e em seguida coloca uma pomada nos dedos e coloca-os no rabo da mãe, ela coitadinha gritou tanto, tanto e o médico fez um trabalho que eu jamais achei que ele o faria, depois limpou tudo e disse que vinha aí a enfermeira com um clister e foi embora. Lá veio a enfermeira o a auxiliar e eu tive de sair porque já não aguentava mais.

Depois a mãe ficou aliviada e exausta, ali estivemos até ela adormecer de cansada.

Diz o médico que até ela tomar algo temos de estar atentos...eu? Mais uma pergunta? Eu só lá vou visitar, ou será melhor mudar-me para lá? 

Amigos estou muito cansada mesmo, hoje a mãe estava bem, mexida na caminha, já se vai virando cada vez mais, a cabeça já teve muito lúcida mas hoje teve momentos de alternância, já mostra fome, embora de outras comidas que não as dela, adora as frutinhas "bledina" . Mas não voltou ao banho na casa de banho, e ao sofá já há dois dias em que fica deitada todo o dia. Amanhã será novo dia, dia de eu chegar ás cinco e fazer perguntas, vamos ver como será.

Ao lado da mãe está agora uma senhora de 53 anos com esclerose lateral amiotrófica, tenho conversado com ela, sendo que só fala muito devagarinho, só mexe o pescoço e a cabeça. Tem um daqueles tablets movidos pelos olhos, já ajudei em algumas situações de mãos tortas em que tinha dores, uma almofada entre os joelhos, enfim, como é que me posso queixar do que quer que seja? Já ajudou a mãe, porque quando a mãe estava aflita a vomitar, a mãe nunca carrega no botão de chamar as enfermeiras,  e ela chamou, pediu ajuda. è uma querida que se resignou á doença e ainda não a vi mostrar qualquer revolta pelo que tem, diz já ter aceite o que lhe aconteceu.

Mas mesmo assim são poucas e algumas sem qualquer vocação, auxiliares, não são empregadas, chamar minha princesa, minha querida e depois tirar a fralda e não passar um toalhete a limpar a pessoa...até já levei toalhetes para a mesa de cabeceira da mãe...mas o hospital tem, só que algumas não levam...